quarta-feira, 29 de junho de 2016

COMO NÃO VIVER DE ARTE


por Maurício Mendonça*


Você está afim de arruinar sua carreira artística? Você quer confirmar aquela baboseira de que arte não da futuro? Quer passar a vida atrás de um balcão de loja? Então confira 10 dicas infalíveis pra realizar seu sonho.



1 - NÃO SEJA PROFISSIONAL

Não tenha cartão de visita, descarte profissionais de artes visuais e gráficas para fazer seus panfletos (na verdade, não faça panfleto!), não tenha uma logo marca, evite todo e qualquer tipo de planejamento, seja desorganizado e pouco objetivo, não trace metas, demore para atender o cliente, negocie apenas através de redes sociais, evite telefone e contato direto com o cliente, atrase a entrega do produto, discuta, irrite e brigue com o cliente, falte e atrase aos compromissos, trate toda sua arte feito uma coisa qualquer levada nas coxas e no improviso. Ao atender o telefone diga "alô", "oi", "e aí", ou melhor, diga "FALA".

2 - NÃO CATIVE AS PESSOAS

Faça questão de mostrar para toda e qualquer pessoa, seja seu cliente ou contratante, amigo ou inimigo, que você é superior; coloque suas necessidades sempre em primeiro lugar; evite responder saudações simples como "bom dia", "boa tarde" e "boa noite"; jamais expresse agradecimento para o contratante ou cliente, pois é óbvio que eles deveriam agradecer pelo privilégio de ter um artista como você "fazendo um favor" a eles; não dê nada de graça; não ajude ninguém; erre, prejudique as pessoas e de jeito nenhum assuma suas faltas, nem se desculpe; deboche da palavra "networking"; faça questão de estar sempre certo; não aceite convites para comparecer em eventos; desprestigie a arte dos outros; não desenvolva parcerias, viva sozinho, pois sua genialidade já te basta.

3 - NÃO DOMINE SUA ARTE

Permaneça estagnado naquele pouquinho de coisa que sabe sobre sua arte; não estude, não pratique, não faça aulas; tire sarro dos artistas que buscam evoluir através do estudo e da pesquisa; faça tudo de qualquer jeito; ignore e desrespeite as regras básicas e estabelecidas da sua arte, principalmente quando você não tiver gênio suficiente para inovar sem se queimar, ou sem ofender; saiba o menos possível sobre tudo que gire em torno da sua arte; fale, faça e ensine muita coisa errada.

4 - NÃO MOSTRE SEU TRABALHO

Fique com seu saber superior e sua técnica divina isolado em seu santuário sagrado: o quarto. Não se exponha, não mostre seu trabalho, evite eventos, evite jams, fuja de exposições, não faça evento gratuito para divulgar seu trabalho, ou, pelo contrário, toque sempre de graça, desvalorizando e sabotando a manutenção do seu trabalho; use as redes sociais pra mostrar seus pratos de comidas, arrumar briga, ou destilar seu ódio e incoerência.     

5 - NÃO ASSOCIE SEU TRABALHO COM COISAS POSITIVAS

Queime seu nome e seu trabalho associando-o a todo e qualquer tipo de coisa negativa que passar pela frente; use as redes sociais para ser um elemento estressor na vida das pessoas, postando coisa ruim e agressivas dia e noite, associando seu nome, marca e trabalho com algo do qual as pessoas vão querer fugir.

6 - NÃO CONHEÇA SEU CLIENTE

Não procure saber e memorizar o nome do cliente, chame-o de "ô", "amiguinho", "amigão", "colega", "fera"; fale o nome errado da cidade onde está se apresentando; escreva errado o nome das pessoas, empresas e marcas na internet, em documentos, etc; desconsidere totalmente as necessidades, expectativas e problemas do cliente (lembre-se de se colocar sempre em primeiro lugar); jamais adeque sua arte ao seu público alvo, ignore idade, sexo, fatores sociais em geral.

7 - NÃO SEJA CONFIÁVEL

Deixe bem claro para todos que eles não devem confiar em você e faça isso sendo irresponsável, mentiroso, tratante, sem compromisso, atrasando desde o ensaio até a entrega do produto, faltando em eventos, sumindo com o dinheiro do cliente, vendendo uma coisa e entregando outra.

8 - NÃO DEIXE DE ATACAR OS COLEGAS

Aproveite o momento que está com o contratante, com o cliente, com os amigos e com os inimigos para falar mal de todos os grupos, bandas, promotores, empresários e marcas que você conhece em sua região; se você tiver alunos, fale mal de um aluno pra outro, critique tudo e todos pra eles; use as redes sociais pra criticar tudo que puder; estabeleça uma classe superior a qual você pertence e coloque todos os outros na outra classe, a inferior; se você for graduado, ridicularize e invalide o trabalho dos não-graduados; se você não for graduado, faça a mesma coisa com os graduados; jamais apareça num evento de outro artista, não curta e nem compartilhe sua arte; nunca divulgue o evento de outro artista; critique seus mestres.

9 - NÃO INVISTA TEMPO E DINHEIRO

Use seu dinheiro pra tomar cachaça. Não invista em novos e melhores equipamentos, nem em imagem pessoal, nem em aprimoramento artístico e profissional, nem em mídia, nem em layout, em nada. E faça um favor, mande vídeos e fotos toscas, de uma arte meia boca, para possíveis patrocinadores, assim construindo uma imagem negativa junto a eles que dificilmente vai superar no futuro.


10 - NÃO TENHA HABILIDADES EM VENDAS, MARKETING E PSICOLOGIA

Você é um artista revolucionário e vive num mundo mágico da sua genial imaginação, por isso não aprenda técnicas de atendimento ao cliente, nem de como vender seu trabalho; faça divulgações de qualquer jeito; mande as técnicas psicológicas embora, pois você é o cara e o governo ou as empresas têm que te bancar; e tem mais uma, você não precisa saber vender, pois só as pessoas superiores reconhecerão o valor da sua arte; elas vão te prestigiar, os demais você nem faz questão.

É isso. Aplique esses 10 passos todos os dias da sua vida, em qualquer contexto, e você nunca viverá de arte. Você tem algumas dessas características? Bora mudar? Caso queira ter sucesso em sua carreira, basta imprimir esse artigo, colar na parede e todo dia agir exatamente ao contrário de cada uma dessas dicas. Gostou? Comente mais dicas para se dar mal, compartilhe à vontade. Abraço do Mau!!!


* Maurício Mendonça é baterista desde 97, professor de bateria e bacharel em Psicologia. Já atuou como ator, animador de festas infantis, iluminador, sonoplasta e vendedor.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

O ESTUDO DA MÚSICA E O AUMENTO DA CONCENTRAÇÃO


Por Maurício Mendonça*


     A música em si traz ganhos únicos para a alma, enquanto expressão artística de ideias, sentimentos, sensações e intuições humanas. Também é uma das raras atividades estimuladoras da quase totalidade do cérebro. A bateria, especificamente, é praticamente um esporte e estimula movimentos de quase todos os membros e grupos musculares do nosso corpo. Sempre digo aos meus alunos que a bateria deveria ser considerada esporte olímpico! Brincadeiras à parte, o estudo da música também traz benefícios psicológicos significativos e, em comemoração ao 04 de Junho, Dia Nacional do Ensino da Música, escreverei sobre um deles: o aumento da concentração. Para tal, usarei o meu instrumento, a bateria, como exemplo.
               
        A quantidade enorme de estímulos e obrigações do nosso dia à dia gera uma fragmentação da atenção que nos "rouba" contato com o aqui-e-agora.

       Pra piorar, a forma como usamos celulares, tablets e redes sociais têm contribuído muito para esse problema. A bateria, ao contrário, trabalha o uso dos membros corporais e exige tamanha atenção para o aprendizado e correta execução dos exercícios que funciona quase como uma prática zen de desenvolvimento da atenção plena (capacidade de concentração inabalável no aqui-e-agora). A distração comumente faz o aluno errar o que está tentando tocar, assim, ele experimenta e aprende de modo prático (não só verbal) que a lição exige foco total. À medida que ele obtém sucesso, a correta execução do exercício funciona como um reforçador positivo (ganho) da concentração, fortalecendo-a. A tendência, portanto, é que sua capacidade de concentração aumente e se generalize para outras áreas da sua vida. Isso, é claro, vale também para os outros instrumentos.

      Um exemplo de dificuldade de concentração. Tive um aluno que sempre errava os exercícios lá pela terceira repetição. Tocava e parava, sem constância. Isso acontecia com todo exercício, mas não por falta de habilidade. 
    
     O conhecimento psicológico me possibilitou perceber que o erro funcionava como uma estratégia comportamental (nem sempre consciente) de interrupção do treino.

Observando o aluno enquanto ele tocava, vi que seu olhar não parava; ele movimentava a cabeça para todas as direções. Não estava concentrado, pra dizer o mínimo. Para resolver a situação, estipulei um número mínimo de repetições que ele deveria executar sem parar antes de poder avançar para um novo exercício. Assim, o novo exercício seria o reforço positivo da concentração. O aluno impaciente sempre quer avançar, ainda que tropeçando, então estipular regras educa o comportamento ansioso, reforçando o foco e gerando paciência. Com poucas aulas ele passou não só a tocar os exercícios sem interrupções, como passou a errar menos e tem avançado de modo mais rápido, pois está mais concentrado.

    Num caso assim, o professor pode tomar o problema pra si, achando que sua aula é chata, ou que não é um bom professor;

ou pode ver o aluno como um problema, desenvolvendo uma antipatia por ele e afetando negativamente o relacionamento com o mesmo e com o trabalho. Pior ainda, o aluno e os pais podem agir assim. Aí é preciso levar em conta que a atenção e a concentração são em parte inatas, mas em parte maior são habilidades aprendidas e desenvolvidas ao longo da nossa vida. Antes do aluno de música chegar até o educador ele já passou por milhares de experiências em sua vida e desenvolveu comportamentos que podem facilitar ou dificultar o seu trabalho. A concentração é um desses comportamentos.

     Quando o aluno não aprendeu a se concentrar de modo adequado, a missão do educador é ensinar e fortalecer essa nova habilidade, contudo, para isso, precisa da parceira do estudante e dos pais.

  A música figura como uma das melhores ferramentas para desenvolvimento de várias habilidades psicológicas.

A prova disso é o fato de muitos psicólogos usarem a música em seus consultórios para desenvolver a atenção, concentração, memória, melhorar o aprendizado, trabalhar conteúdos emocionais, etc. Ouvir, entender, aprender e executar uma frase musical, por mais simples que seja, exige atenção e, por isso, funciona como um excelente treino de manutenção da concentração. Indico que o educador, sempre que possível, converse com o aluno e com os pais, de modo leve e positivo (nunca estigmatizando), desenvolvendo neles a consciência à respeito de habilidades que necessitam aprimoramento. Novamente, estudar música não só exige, como desenvolve a concentração.

*Maurício Mendonça é professor de bateria, instrumento que toca desde 1997, e bacharel em Psicologia.

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segunda-feira, 23 de maio de 2016

NICK MENZA: SUA IMPORTÂNCIA PARA O MUNDO DA BATERIA



      A triste notícia do falecimento precoce desse grande baterista em 21/05 chegou ao grande  público pelas mãos de Dave Mustaine. O líder do Megadeth manifestou que termos como "devastado" não fazia jus aos seus sentimentos sobre o ocorrido. Eu, particularmente, também fiquei bastante triste com isso, pois Menza é, desde 1997, uma das minhas três maiores influências na bateria. Ainda me lembro quando sonhava em um dia tocar músicas como "A Tout Le Monde", "Killing Road", "Symphony of Destruction" e do quanto fiquei em êxtase quando essas e outras canções tocadas por ele entraram no set list da minha primeira banda. CDs, camisetas, revistas, posters na parede de casa e do estúdio. Éramos fanáticos por Megadeth e eu por Nick Menza. Hoje, passado quase 20 anos, ainda vivo a mesma história. Passei os últimos meses estudando e aprendendo as músicas de Menza e sendo influenciado pelo seu projeto de rock fusion, o OHM. O que me fez continuar a ser fan e a ser influenciado por Menza foi a compreensão maior que passei a ter da sua arte com o passar do tempo. Então aqui quero escrever um pequeno tributo a esse mestre, falando sobre sua importância no mundo da bateria.

        Menza fez parte da formação clássica do Megadeth, de 1989 a 1998, sendo o responsável pelos grooves de discos importantíssimos para a história do Metal, como Rust In Peace (1990), Countdown to Extinction (1992), Youthanasia (1994) e Cryptic Writings (1997). Através desses discos fez com que muita gente passasse a estudar bateria, frequentar aulas, adquirir instrumentos. Ainda lembro de quando ele, Ian Paice (Deep Purple) e Vinnie Paul (ex-Pantera) figuravam nas propagandas da Pearl, ou da Zildjan em revistas como Modern Drummer Brasil. No entanto, Menza é um daqueles bateras que tocam com personalidade e mesmo num estilo como o Thrash Metal, no qual muitos músicos tendem a soar igual, ele imprimiu um jeito muito seu de tocar, injetando criatividade e destacando-se assim como Dave Lombardo (Slayer), Lars Ulrich no Master of Puppets, Vinnie Paul, Gene Hoglan (Dark Angel, Death, Testament), entre outros. Menza colocou a bateria do Megadeth num outro patamar, que também estimulou mudanças em muitas outras bandas. Esses discos não seriam clássicos sem sua arte.

        Em suas composições Menza não se limitava às levadas típicas do Thrash, com linhas retas e viradas rápidas e às vezes simples. Ele criava grooves fantásticos, com belas e poderosas figuras nos bumbos, viradas matadoras em vários tempos, como acentuações, flans, paradiddles. Exemplos: as frases usando os tons, surdos e dois bumbos durante os solos de Hangar 18; a introdução matadora, as linhas de dois bumbos incríveis seguindo as guitarras, o trabalho da mão direita no ride, as levadas quebradas antes do solo de Rust In Peace...Polaris; o trabalho de chimbal, condução e crash de Five Magics; o trabalho de bumbo e caixa de Take No Prisioners, umas das introduções mais matadoras da batera metálica. Rust In Peace é um baile de bateria do começo ao fim. Um disco essencial para quem quer tocar Metal. 

        Os discos posteriores não ficam atrás. Countdown...possui viradas incríveis, como a introdução em sextina distribuídas entre mãos e bumbos em Skin O´ My Teeth, mudança de ritmo durante a música, como em Symphony of Destruction, trabalhos fantásticos de bumbo, etc. Youthanasia e Cryptic Writings representam uma mudança significativa no estilo de composição do Megadeth, principalmente o último. A banda passou a compor músicas mais cadenciadas e Nick Menza aproveitou para voar baixo criando grooves sensacionais. Escute Train Of Consequences e deleite-se com uma aula magistral de como se tocar Metal de forma pesada, mas com um groove de fazer James Brown tirar o chapéu, o sapato e a cueca.  Até a balada A Tout Le Monde apresenta uma bateria que desvia do básico para presentear o ouvinte com outra aula de musicalidade através de coisas simples, aplicadas de forma genial. 

     É possível reconhecer figuras de outros estilos musicais em suas composições com muita facilidade, como frases de bumbo características do funk norte-americano, influencias de jazz, rock clássico. Menza era filho de Don Menza, um lendário saxofonista de jazz que tocou com ninguém menos do que Buddy Rich. Por aí podemos tirar as influências do menino. Sua morte representa uma perda enorme para o mundo da batera. 

       Menza nunca foi um rock star, que faz do instrumento uma muleta pra droga, sexo e dinheiro. Ele foi um verdadeiro músico. Fora o passado, no qual gravou com outras pessoas, entre elas, diz-se, com John Fogerty, também participou de três discos solos do guitarrista Marty Friedman, dedicou-se a música instrumental com o OHM, fez workshops, esteve em feiras de música, se envolveu na criação de produtos como as baquetas luminosas que seriam lançadas no mês de Junho de 16, ou seja, viveu o instrumento e deixou um legado importantíssimo que entrou para a história do Heavy-Metal e da bateria.  Superou um câncer no joelho, mas tombou diante de um infarto enquanto tocava seu instrumento. 

      Além de toda essa musicalidade, Menza era um showman das baquetas. Velocidade e força fazem muitos bateras de Metal tocar parados, às vezes sem expressão. Menza, não!!! Tocava dançando, como Ian Paice, batendo cabeça, erguendo braços, levantando-se no kit para agitar a galera em performances repletas de energia e dignas do mestre Keith Moon. 

     Eu queria ter tido a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Aí então eu agradeceria por ele ter me inspirado a começar algo que hoje coloca comida na minha mesa. Quem sabe um dia! Obrigado mestre!

NICK MENZA 
23/06/1964 - 21/05/2016







         














   

quarta-feira, 18 de maio de 2016

4 DICAS PARA CRIAR O HÁBITO DE ESTUDAR MÚSICA


     Você está careca de saber que o estudo regular é essencial para a evolução em qualquer área da vida, inclusive na Música e na prática do instrumento que tanto curte. Provavelmente já ouviu isso do pai, mãe, vó, tio, papagaio, periquito, e duma dezena de professores ao longo da sua vida. No entanto, o bendito estudo parece dar choque e te repelir mais que hálito de cebola na hora beijo, né não?! É claro, todo mundo aconselha a gente a estudar com regularidade, mas poucos ensinam como. Então, nesse artigo darei algumas dicas de como construir o hábito de estudar música.

Dica # 1 - Entenda a necessidade do estudo

    O filósofo grego Aristóteles já dizia que experiência não se ensina, por isso, apesar de todos falarem que você deve estudar, talvez só irá entender a coisa quando passar pela experiência da necessidade do estudo. O problema é que essa experiência tenderá a ser negativa, saiba disso. Dificuldade numa apresentação, gravação, criação de frases, na hora de tirar uma música, etc., são apenas alguns exemplos. Então a dica número um é: vá atrás dessa experiência de modo positivo, entendendo verdadeiramente a necessidade de se estudar. Não espere o problema aparecer para te (des)motivar.

Dica # 2 - Comece devagar

    Depois de uma experiência negativa, ou na ânsia de se tornar rapidamente um grande instrumentista várias pessoas estabelecem uma rotina inicial de estudos muito pesada, praticando por horas e horas. Isso costuma ser um desastre. Ao invés de motivar, condicionar e promover a evolução, gera cansaço, dores e afastamento dos estudos. Uma longa rotina é muito difícil de ser mantida diariamente, principalmente no começo. O grande baterista Gene Hoglan (ex-Death, Testament...) disse certa vez que o defeito de muitos bateristas é querer correr antes de aprender a andar. Então comece pequeno, siga o caminho natural da semente até a grande árvore. 

Dica # 3 - Fortalece primeiro o mini hábito

      Entenda, algo só se torna um hábito quando é reforçado positivamente. Quando a consequência de uma ação é negativa (cansaço, dor, lesão), tendemos a abandoná-la. A lesão por si só te obriga a parar de praticar, sendo, portanto, algo extremamente prejudicial. Assim, elabore uma rotina inicial de estudo que seja leve e prazerosa, principalmente, que gere uma consequência positiva. O próprio bem-estar, a sensação de auto-realização são exemplos de consequências reforçadoras. Como diz Kiko Loureiro, guitarrista do Megadeth, antes de criar o hábito de estudar regularmente por horas e horas seguidas, desenvolva o mini hábito de estudar regularmente por alguns minutos. É a terceira dica. 

Dica # 4 - Adicione valor através de objetivos adequados

      A melhor forma de gerar uma consequência positiva para sua rotina de estudos é acrescentando valor, ou seja, você precisa sentir que ela é importante, fascinante até. Pra isso, é fundamental que você obtenha resultados. A melhor maneira de fazer isso é traçando um planejamento e tendo objetivos claros e realistas. De novo, é preciso começar pequeno, com objetivos menores, para depois abarcar grandes coisas. Exemplo: você pode gerar valor ao seu estudo vinculando-o ao objetivo de tirar e executar bem uma música que gosta, estudando matérias relacionadas as partes que compõe tal música. 

       Essas foram as minhas dicas neste artigo, existem outras, sobre outros pontos, que tratarei em outro artigo (fique atento). Acredito que o planejamento e a objetividade são fundamentais para evolução. Não precisa ter uma rotina engessada, mas é preciso ter um norte, uma meta, pois estudo solto inclina-se a não produzir resultados satisfatórios. E toda ação sem consequência também tende a desaparecer. Então, relembrando: 1) entenda a necessidade de estudar através de experiências positivas; 2) comece devagar; 3) fortaleça o mini hábito primeiro, por meio de experiências positivas; 4) adicione valor a sua experiência tendo objetivos claros e, a princípio, simples. Saiba onde está, onde quer chegar e abrace aquilo que te aproxime da sua meta. O sucesso é a consequência. Bons estudos e até a próxima. 
            

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O monge e o malabarista


O monge e o malabarista




por Maurício Mendonça



  Como se fossem os planetas da nossa constelação ao redor do sol, bolinhas coloridas orbitam o olhar do malabarista. Precisão, ritmo, leveza em cada movimento. Do outro lado, um universo de pequenas esferas encantadas, crianças alegres brilhando como estrelas no céu. O malabares parece uma simples brincadeira e, em verdade, o é. No entanto, assim como muitas coisas da vida esta simplicidade aparente "esconde" algo profundo e complexo. Todos podem ter acesso a isso, basta brincar. 

  Monges e psicólogos de certas escolas, como o Zen-Budismo e a Terapia Comportamental de Aceitação e Compromisso (ACT), apontam alguns problemas do ser humano como frutos da sua desconexão com o aqui-e-agora. A turbulência do mundo leva indivíduos e grupos a viverem num mundo mental, de lembranças e planos, de pensamentos e emoções sem fim. Longe do real, perdem o momento, a noção do tempo e espaço, deixam passar a oportunidade de transformação. A saída? Malabares. 

  Teatro e Circo comungam o efêmero. Nunca são os mesmos se registrados, narrados, ou gravados. Eles são fenômenos do aqui-e-agora. O malabarista é o artista deste instante único no cosmos. Cada bolinha girando diante dos seus olhos expressa a dinâmica da vida assim como dizia o filósofo grego, Heráclito de Éfeso: nada permanece, exceto a mudança; a vida é movimento. 

  Cada criança, naturalmente sábia, observa e vive atentamente aquele instante. Sua cabeça não está no jantar, nem nas tarefas escolares do dia seguinte, tampouco nas metas pro futuro. Sua atenção é plena. Assim como a consciência do malabarista.

  Para viver o momento, é preciso desconectar dos julgamentos, do mentalismo tão habitual. É necessário estar inteiro no aqui-e-agora. Quando se está aprendendo malabares, é possível notar, um simples pensar, um breve desvio do momento faz o tempo da bola passar despercebido...ela foge, rolando pelo chão. Desapercebido, vivendo na bolha mental, o ser perde muito daquilo oferecido pela impermanência. 

  Assim é a vida. Paradoxalmente, simples e complexa. Sabemos, os momentos desperdiçados nunca mais retornarão. Mas como evitar? Basta brincar. É brincando, pleno em atenção, livre das amarras mentais, que se vive a vida com profundidade, aqui-e-agora. Quem imaginaria que por trás de um simples malabares circense estaria o mesmo conceito da meditação e daquelas técnicas psicológicas consideradas hoje as mais modernas e eficazes no tratamento de diversas questões!? Basta brincar, basta agir. Permita-se, torne-se presente.    




quarta-feira, 18 de março de 2015

Cuidado com o excesso de diálogo no relacionamento



CUIDADO COM O EXCESSO DE DIÁLOGO NO RELACIONAMENTO

por Maurício Mendonça





  Ele é remédio largamente receitado como cura para quase todos os males das relações amorosas. Ele é pai das famosas "D.Rs", as discussões de relacionamento. Ajuda em muitos casos, mas piora gravemente as coisas em muitos outros. O diálogo possui efeitos colaterais, a maioria deles ignorados pelas pessoas. Assim, ao invés de salvar a relação, comumente é responsável pela sua ruína.

  Ele corrói a relação quando representa uma tentativa de domínio racional sobre questões sentimentais. É quando se tenta tudo entender, tudo explicar, tudo justificar. A vida em comum deixa de ser vivida no plano real, com erros e acertos, passando a ser vivenciada no plano ideal, onde tudo tem que ser perfeito e racional. Vale comunicar aos casais que eminentes filósofos e cientistas de todas as eras têm falhado na tentativa de entender e explicar o amor à luz unilateral da razão.

  O diálogo excessivo põe para rodar a máquina da censura. Tudo passa a ser observado, anotado e apontado. A cada passo, surge uma crítica. Questionamentos e explicações intermináveis tornam cada momento do casal a ocasião do sermão, da palestra punitiva. Os diálogos que aconteciam durante o almoço, se alastram para as demais refeições. As discussões que aconteciam em casa ganham as asas do hábito, reproduzindo-se na residência dos amigos, dos familiares, nos espaços públicos.

  O que representava tentativa de resolver dificuldades, torna-se o problema. As palavras tornam-se cada vez mais ásperas, segredos e falhas alheias viram armas na intenção de ferir. O respeito faz as malas. O contato carinhoso diminui. As expressões de afeto se tornam raras. A briga vira única forma de comunhão. O sentimento amoroso acanha-se no canto da relação, castigado pelas imposições da razão, violentado pelo ideal de perfeição, negligenciado pela expressão autêntica. E aí, o diálogo excessivo atinge seu objetivo máximo como fuga da realidade: o fim do relacionamento.

  É fuga se o predomínio da razão busca afastar o contato com os próprios sentimentos, modificando-os, invalidando sua expressão genuína através do discurso. Quantas vezes o grito de ódio esconde o pedido de abraço! É fuga quando a voz do diálogo cala a voz do coração. O que deveria ser um remédio, transforma-se em veneno se nos tira o contato com a realidade. Muitas vezes o silêncio, a observação, o contato olho no olho, o beijo, o abraço, o choro, muitas vezes é melhor viver a relação, fazendo o que precisa ser feito, do que discutir sobre ela. "Nada em demasia", diziam os gregos.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

COMO A CRIANÇA APRENDE A SER BIRRENTA



COMO A CRIANÇA APRENDE A SER BIRRENTA




por Maurício Mendonça




  "Coitada! Os moleques com esse nome que ela escolheu são terríveis". Já ouviu isso antes? Quando a criança é "difícil", surgem explicações e conselhos de todos os tipos: nome, mau olhado, temperamento, ansiedade, distúrbio mental, hiperatividade, obsessão; aí mandam benzer, medicar, castigar, etc. Sobram receitas. Tem cada uma! O que falta, muitas vezes, é um detalhe bem simples: observação e modificação das consequências geradas pelo comportamento da criança.

  O bebê acordou faminto e sozinho em seu quarto. Resmungou. Ficou em pezinho e murmurou. Lá de longe o familiar, cansado, resolve esperar pra ver se o nenê volta a dormir. A criança começa a chorar. Aos berros, vê alguém chegando cheio de mimos. O que o bebê aprendeu? Que o único comportamento que gera a consequência "atenção" é o de berrar. Na próxima, não perde tempo, já acorda com o volume máximo.

  A menininha chega ao mercado e pede aquele alimento caro e venenoso que o familiar não aceita comprar. No entanto, a menina traz do berço a sabedoria: persistir é o segredo da vida. Pede, repete, se descontrola, deita no chão, rola, começa a gritar. Quando a mãe percebe que até os produtos das prateleiras estão olhando pra ela, desiste de ameaçar mil castigos e entrega o alimento que a criança "pediu". O que a menina aprendeu? Que no extremo do escândalo a mãe cede. Sucesso. Na próxima, não perde tempo, vai direto ao chão, quer dizer, ao ponto.

  Nosso comportamento é instalado e mantido pelas consequências que produzem durante nossa relação com o ambiente. Quando dá certo, tem a probabilidade de voltar a ocorrer aumentada. Simples. Muita gente sabe disso, mas acredita que se o comportamento tiver uma consequência ruim (punição) ele deixará de ocorrer. Grave engano. A bomba atômica impediu de haver guerra no mundo? Não. Criou uma corrida nuclear. A ressaca faz alguém parar de ingerir álcool? Só por um dia. O comportamento inadequado só deixa de existir quando não tem nenhuma consequência. No entanto, somos especialistas em dar atenção ao comportamento "problema", ignorando o adequado - vide mídia. O que fazer, então? Reforçar o comportamento desejado. A birra nada mais é que um comportamento aprendido. Ensine, valorize e recompense o comportamento adequado.